dia desses esbarrei em meu sentimento exprimido por outra pessoa - a inocência de minha egocentricidade fez-me chorar a gargalhadas tal qual hiena: com raiva, inveja, carnívora de mim. lancei o olhar pesado sobre este outro - o sangue em suas veias, o pelo recobrindo aquele corpo, a rima de uma boca fechada que reverberaba em seus olhos a mim. - como pode? como se atreve invadir este espaço que somente meu, deitar-se em minha cama que somente minha, desnudo tal como nasceu? - e compreendi. da carne irrigada pelo sangue, os pulmões repletos de ar, os intestinos cheios de merda. o contraditório da existência: que o que nos compõe são os mesmos átomos e o que nos separa é a mesma mente sofrida, orgulhosa, vaidosa, carente de afeto que apropriada de orgulho confunde o amor com posse. e domina, maltrata, judia. e se afoga em mágoa engasgada de quem deveria ter sido e não foi - ofendido desde o berço e abandonado a própria sorte pelos anos que agora passam como o trem que sai da estação usando do remorso como um último apelo a dignidade de uma vida que se esvai em inquietação.

te acalma e ama.