Yemanjá

Nasci mulher - cínica em minha natureza. Ventre fértil que aos homens deduz algum tipo de fraqueza que não reconheço em meus braços. Eu - convicta dadeira ou virgem menina - duas em todas as vertentes, mas o que eu estou falando? Sou mil e uma e alguma há de agradar-te, mas não me perturbaria seu ódio, desde que honesto. Boca aberta sempre e minhas palavras nem sempre me traduzem muito bem: uma hora serei mãe e alimentarei teus filhos, doação eterna, danação materna. E no momento seguinte, ai meu deus! São tantos os filhos no mundo! dá licença, e os cabelos decoraria com fita pra na rua ter brilho de estrela - carreira de artista - rosto de menina. Minha mente, meu caro, há de exercer esse fascínio feminino sobre seu corpo e teu desejo risca-me em rajas de olhares furtados quando faço de conta que não vejo. E logo em seguida haverá de dar no saco toda essa jogatina e então vai pra casa e descansa, me esqueça até amanhã. Bruta, Iracema, meus dedos e meus quadris - minha força é meu conjunto. Sua mente perdida, que apesar de não mais me querer, há de amanhecer faminta e em meus braços procurará trégua. E me come, me bate, me consome a vida - deixa em mim todo esse sofrimento que n'outra hora será alegria. E há também todos estes outros que virão e que após fazer casa - sala - festa, embora irão e eu - esquecimento. Haverá alguém a topar este namoro e em mim provar de todas as traições, meus merengues e seios fartos. E recomeço, faço novo, de novo, minha parição afroditiana que nesse mundo faz novela, simula, ama e abandona à própria sorte. Eu sou mulher, saravá! Adeus e olá.