[travessão]:

Não sou de pouca conversa - falo muita bobagem - mas nunca fui de me abrir assim com os outros. Me parece insensato demais ocupar ouvidos alheios com as dificuldades que eu mesma não consigo enfrentar. Costumo escrever não como quem o faz pra fora - mas sim pra dentro. Rumino cada sílaba o tempo todo - volto, retorno, apago, não me entendo, repito. Me prende o antagonismo da vida - a sobremesa após o almoço - um bisneto no colo da avó - essas brincadeiras irônicas que a nós são impostas dia-a-dia. Acho tudo muito dolorido - e de tão triste me parece que a vida é bonita. Ou ela é bonita demais e por isso eu seja triste... Enfim, apenas não sei. Entende minha dificuldade? Eu não sou boa de prosa, mas eu não falo pouco. Ocupo esse vazio com intenções de felicidade e assim me esqueço a todo momento: a vida é difícil. E é uma só. E isso que me magoa... O oposto de viver é morrer, e apenas nesse ponto, onde tudo é dois, me parecem que as pessoas vivem meio mortas, um algo só.