6h

São seis horas da tarde quando pego o ônibus. Penso comigo mesmo que chegarei ao meu destino ainda com a luz do dia e que não me acostumo com esse horário estranho. A paisagem entediante e o balanço do carro dão um leve torpor muscular e me relaxo no banco. Nesses momentos mais inusitados - você mesmo, uma janela, um desconhecido ao lado, um céu sem fim - parece que todos os temas do mundo passam na cabeça e tudo o que tento é não me preocupar. Tarefa difícil. O infinito do universo, a fragilidade da vida, - será que tranquei a porta de casa?, amores perdidos e os futuros também inundam meus pensamentos. - Preciso maneirar no vinho. - Quanto tempo não vejo a Cláudia... - O que é o tempo?. E me perco. De repente uma olhada mais romântica ao céu - tão azul - e a vida que se nota tão pequenina e cândida nesse universo. Pois ora só, o que sou eu? Minha fragilidade me assusta. Pois não passo de nada, ninguém, ponto efêmero na imensidão de algo tão grandioso que é o universo e eu - pobrezinha - inútil criatura supérflua que de ônibus segue caminho à sua casa. E tudo se move. O telefone toca, é minha mãe. Pergunta a que horas chego em casa e recomenda que me apegue mais a Deus, pra enfrentar essa vida. Digo que sim, aceito o conselho. Fecho os olhos e durmo.