A bailarina

Das grades ao muro ela dançava. Era um movimento oblíquo, um tanto de 30º que entortaria o pescoço de quem tentasse admirar, mas estava sozinha na rua, junto somente dos ratos que habitam os esgotos nas madrugadas mais quentes. E era uma dessas, onde o cabelo cola na nuca e o suor escorre clavícula abaixo, deixando intimidantes os seios empapados que naquele momento arfavam. O coração palpitava, gritante e tinha a impressão de que poderia ouví-lo e até mesmo sentí-lo sem o mínimo de esforço. Ao notar quão estúpida era esta minha pretensão fingi apenas que sim, ouvia seu coração palpitar. Tum. Tá. Tum. Tá. E ela rodava, girava, dançava, by herself com os pés na rua.