tato

Dos cinco sentidos era tato – o toque. Seus dedos em meu cabelo lembravam-me desavisado: “está viva, vê? Vai sem pressa, pequena. Segue seu caminho”. E talvez não soubesse que iria – ou que indo já não mais lhe pertenceria. Porém, fui. Soltei os dedos que carreavam minhas inseguranças para partir. Ali me despertou o primeiro sentido: era dor – ainda arde minha pele. Lá fora eram outros muitos que me confundiam a textura: uns tantos ásperos, outros tantos avelãs e enfim, um pêssego em minhas mãos. Aqui reconheci meu lugar – achei-me em seus dedos e minha pele era febre matada frente ao seu toque. Continuo sem pressa - minha propriocepção tomou seu corpo e já não me é desavisado seu lugar: pertence junto a mim. Aprendeu a partir e ainda assim, escolheu ficar. A vida inteira me levou pela mão, me subiu pelos braços, acabou-me na boca e a cuspo, engulo, digiro. Alimento-me do que se consome em mim e vivo.