desordem

Eu estava em paz quando você chegou. Jogada no sofá, brincava com meus dedos num batuque insistente que poderia ter irritado quem me fizesse companhia - mas não havia ninguém. E num de repente: mão pesada que bateu na porta e assustou meu coração. Não sabia quem era, não deixei entrar. Insistente foi você. Eu estava só quando você chegou, sabe? E essa coisa de solidão é saber-se ignorando sua própria imagem no espelho, pois ali não há nada e nunca há ninguém. Estava assim. Louça suja na pia, cama desarrumada, lixo acumulado, poeira no chão. E foi nessa casa bagunçada que você se adentrou, numa segunda vez. 



As cortinas estão fechadas e não deixam a luz do sol entrar. A boca entreaberta com a barba amarelada pela nicotina me olha como quem pergunta: - há alguma coisa aí?. E aponta pra uma menina, que antes sempre sozinha, agora ali.  - Tem, mas acabou. Ou pelo menos era o que ela acreditava. Até olhar pra esse lugar ocupado na sala e esquecer que há paz na solidão, paz? questiona. Aqui dentro está escuro, mas lá fora faz sol, percebi. Talvez seja hora mesmo de me desfazer dessas velhas cortinas e faxinar o meu lar.