Há uma cicatriz em meu peito onde se esculpiu a memória da sua existência: meu pai, um terrível titã e extraordinário herói, seus dois espectros em comunhão divina - do homem e do deus que a mim se apresentavam. Foi o primeiro homem que eu conheci e amei. A dissonância do amor e do medo, essa cacofonia nascida da falta de adestramento dos afetos e a substância palpável do seu querer bem nutriram o nosso amor, e me tomando à dança da vida me educou os passos, me mostrou o ritmo e em seu estilo e genêro próprios tão cedo me ditou o adeus. E a coreografia da vida é essa: os passos que damos em direção ao nosso destino - o fado da própria existência, perene, perpétua e em nós eterna. Meu pai foi um homem lindo e com ele eu entendi o amor.