Puta

Desnudava-se com a mesma facilidade das putas paulistas na augusta. Não que tivesse feito escola pra isso! jamé, rapá. Apenas apreciava o olho de cobiça gratuita que seu rico corpo despertava. E foram tantos olhos e línguas e mãos que a percorreram que num momento já não era ela – tornara-se livro de lágrimas de outrem que em seu peito, feito mãe, havia consolado sem saber uma palavra ou um afago de conforto. Crescera puta numa sociedade que a subjugara a mero buraco inerte de prazeres de terceiros que nela – para seu desentendimento – agora encontravam a paz do desabafar sem julgamentos, dessas conversas que se jogam fora, da raridade de dois olhos atentos. Com a mesma rapidez que tirava a roupa aprendeu que as pessoas abrem a alma – e este ser livre, que taxada puta por escolher amar, difamada por uma sociedade que não lhe incluía agora trajava o sofrimento de mil homens infelizes que em seu ventre retiravam suas máscaras, e na honestidade de um gozo encontravam forças pra continuar. Essa menina retirava do corpo tudo o que não lhe pertencia, e assim, era ela, somente ela, quer a chamassem vadia ou não. Puta ou não. Por ela, mulher. Aborto de um país que vira as costas – e joga as pedras .