E quando meus sonhos
pesarem mais que minhas asas puderem aguentar
eu voo raso
mas não piso no chão.
Viu e não falou nada, deixou-me acreditar que cacos de vidro eram diamantes. 
Justificou-se como quem perdoa a si mesmo, e para ti bastava. 
Bastei-me. 


você era de direita e eu de esquerda 
- demos as mãos -


E num comichão de curiosidade subi-me pela espinha e saí boca afora
avoei pra longe n'onde se esconde esse tal crescer-se.


Restou o casco e o acaso.
 O cerne de uma menina que dantes era
e agora
foi.
Quem disse que só bala mata errou o alvo. Morri de amor pra renascer - e morrer de novo.
Eu moraria em você. Nesses braços que esticam os músculos ao acordar, na altivez das decisões ébrias de madrugadas desimportantes. Te ensinaria o sim pelo não e a abrir os olhos com a calma de quem ainda não tem certeza que enxergará. Moraria em sua língua no amargar do café sem açúcar - esse baque de realidade que já nos ensinaram: "a vida não é doce". Moraria sim, menino. Nesse cômodo desarrumado que você chama coração.
Ela estava sentada na varanda - cadeira de fio e sol poente - e se banhava, tal qual seu cão, no calor morno e gentil que se despedia do dia. E ali, pareceu por um segundo, que sua tristeza de tão grande não lhe caberia no peito e como um câncer tomaria seu corpo. Notou que olhava para a porta - ansiosa e à procura - de alguém que saísse por ali, adentrasse aquela mesma varanda e visse seu sofrimento, compadece-se de sua alma e zelasse por seu coração. E viu então, com o corpo em brasa, num relance de lucidez, que pior que ser só é a solidão. Levantou-se e entrou na casa, pela mesma porta que esperava que alguém saísse, porque percebeu. Ela viu. Que a vida, em sua maioria, não é buscada do lado de fora. Nós a encontramos do lado de dentro, em nós mesmos. Não há tempo a perder.
Tenho medo da dor. Da dor da partida, da dor da espera, da dor da perda.Tenho medo da dor de um filho, da dor de não ser criança, da dor de dizer não. Tenho medo da dor da mentira, da dor da desesperança, da dor do desamparo. Tenho medo da dor da doença, da dor do luto, da dor da solidão. Tenho medo da dor porque por mais que a tenha experimentado, provado, mastigado, não me acostumo. Não me acabam as lágrimas. Não me deixa o passado. Tenho medo da dor porque por mais que seja igual, é diferente. Por mais que tenha ido embora, ainda está. Por mais que eu diga - não tenho medo, não se afasta. Então, tenho medo da dor. Porque como uma sombra ela te acoberta. Te dá coragem, e te lembra sempre: você é um corpo, eu sou você.

Processo destrutivo,
substantivo feminino,
mulher.