não há tranca no meu coração

Nunca achei que camas compartilhadas combinassem com despedidas banhadas em lágrimas, quando tudo o que sempre espero do seu corpo é suor e saliva. E foi assim que te deixei naquela noite de novembro, descansado e fatigado, perdido em um corpo molhado e uma mente adormecida que delirava em lençóis vermelhos amarrotados - lembro de ficar curiosa em saber o que sonhava. Parecia cena de filme barato e clichê, porém com tantos poréns... Eu não era mocinha, e não acreditava em despedidas e juras de amor eterno. Te deixei e fui: sem sussurros em seus ouvidos adormecidos, sem expectativas irreais, sem futuro, somente com a lembrança de uma pele macia e um par de olhos que tudo me falavam. E notei naquele momento que nunca ninguém, jamais, havia sido amado tanto assim. Saí sem bater a porta, a deixei entreaberta, pra um filete de saudade entrar e banhar seu corpo de sol e te lembrar sempre que a qualquer momento eu posso voltar.
O céu pinta-se de laranja
minha boca de vermelho
pernas pretas de arrastão
choro azul
em um mar de olhos castanhos,
a vontade é sempre branca.

uma história de amor

Seu olhar cruzou divertido com o meu às 7:00 horas de uma manhã de quinta-feira -Quem olha sorridente numa hora dessas?- te perguntei e você não quis responder, e agora depois de tantos anos confesso que me deu vontade de te fazer cócegas, a qual controlei bem, rezam os fatos. 

Fui prudente, não me perdi instantaneamente em sua lábia, mesmo que quisesse, concedi à você o prazer da trabalhada conquista, deixando um olhar de falsa represália nas brincadeiras de cunho mais intimo, nas investidas mais ousadas, mais libidinosas. Acho que foi aí, no olhar corrugado que você soube que já era sua.

E então os papéis se trocaram -certo? Eu fingia não te amar e você fingia não me possuir. Jogo atrevido que travamos por longos anos pela sempre certa 'batedeira' que causava. Que emoção! Você era meu, eu era sua. E era tudo ponto final. Esquecemos das reticências...

Não tomamos sol nem chuva. Não nos arriscamos nos perigosos penhascos que a vida a dois propicia, nos amamos em silêncio, sem perigo e por isso, para sempre.

da sua, sempre sua